Ícone de sino para notificações

Lula tenta puxar EUA para combater “andar de cima” do crime organizado

Mundo


O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta atrair o apoio dos Estados Unidos para a estratégia de combater ao crime organizado internacional que prioriza a desarticulação financeira das cúpulas criminosas — o “andar de cima”, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, refere-se aos níveis hierárquicos mais elevados do mundo crime.

Um sinal da estratégia do governo federal de buscar o alinhamento dos EUA no combate às organizações criminosas ocorreu nessa terça-feira (2/12). Lula conversou com o presidente norte-americano, Donald Trump, por cerca de 40 minutos por telefone e, conforme nota do Palácio do Planalto, reforçou “a urgência em reforçar a cooperação com os EUA para combater o crime organizado internacional”.


Palavra de ordem é cooperação

  • Nas operações contra o crime organizado destacadas pelo governo federal, as autoridades têm enfatizado o trabalho conjunto de órgãos de controle financeiro.
  • Neste cenário, ministros têm enfatizado as atuações da Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
  • O tema segurança pública tem ganhado evidência nas últimas semanas diante do crescimento desta pauta em pesquisas sobre a maior preocupação dos brasileiros.
  • O governo federal e governadores de direita se dividem no discurso sobre as estratégias de enfrentamento da questão. Os governadores se apresentam, em sua maioria, como linha dura e exaltam o enfrentamento direto.

“(Lula) destacou as recentes operações realizadas no Brasil pelo governo federal com vistas a asfixiar financeiramente o crime organizado e identificou ramificações que operam a partir do exterior”, diz trecho da nota oficial.

Encontro entre Lula e Trump na Malásia
1 de 4

Encontro entre Lula e Trump na Malásia

Ricardo Stuckert / PR

Lula e Trump na Malásia
2 de 4

Lula e Trump na Malásia

@ricardostuckert

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Encontro com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático
3 de 4

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Encontro com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático

Ricardo Stuckert/PR

Lula e Trump na Malásia
4 de 4

Lula e Trump na Malásia

Andrew Harnik/Getty Images

As ramificações no exterior citadas por Lula têm relação com a Operação Poço de Lobato. Nas investigações, conforme Haddad, foi identificado que os alvos das autoridades, envolvidos com o Grupo Refit, atuavam com suposta evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

“Estão utilizando o estado Delaware, nos Estados Unidos, em operações de lavagem de dinheiro. Na operação, são abertas dezenas de empresas. No esquema você faz um empréstimo para esses fundos e (os recursos) voltam na forma de aplicação lícita em atividades econômicas no Brasil, mas o dinheiro que vai para lá não é lícito”, afirmou Haddad na última quinta-feira (27/11).

Naquela última quinta-feira, Haddad também citou outra prática criminosa passando pelo Brasil e pelos EUA para justificar um termo de cooperação contra o crime organizado internacional. Conforme o ministro, peças de reposição de armamentos têm partido dos Estados Unidos ilegalmente e chegado ao Brasil para abastecer o crime organizado.

“Você compra uma mercadoria e, no meio do contêiner, vêm as peças de reposição ou o próprio armamento. Isso está acontecendo no Brasil. Se nós tivermos um controle lá na saída (nos EUA) e um aqui na entrada, vai aumentar a nossa eficiência”, afirmou o ministro.

O Planalto afirmou que Trump reagiu positivamente à demanda apresentada por Lula. “Trump ressaltou total disposição em trabalhar junto com o Brasil e que dará todo o apoio a iniciativas conjuntas entre os dois países para enfrentar essas organizações criminosas.”

O foco no “andar de cima”

O governo federal já deixou claro o discurso de combate ao crime focado no “andar de cima”. O Executivo tem se valido das últimas operações que miram as finanças do criminosos no Brasil para tentar se posicionar no debate do combate à violência, uma pauta dominada pelo espectro político da direita.

No dia 28 de agosto deste ano, a Operação Carbono Oculto desmontou um esquema que operava na venda de combutíveis, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. O arranjo criminoso tinha associação com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e ramificações em parte da Faria Lima, centro financeiro do país.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou a Operação Carbono Oculto como “a maior da história contra o crime organizado”. Haddad enalteceu a operação ao dizer que ela atingiu “o andar de cima do sistema”.

Disputa política

A oposição, por outro lado, também se movimenta em relação à segurança pública. O Projeto de Lei nº 5.582, conhecido como PL Antifacção, foi apresentado pelo Executivo, mas a versão final, aprovada na Câmara e que tramita no Senado, ficou com o texto final distante dos conceitos defendidos pelo Planalto.

Uma movimentação da direita poderia levar a uma associação dos EUA ao combate ao crime organizado. Em uma das versões que apresentou, o relator do PL Antifacção na Câmara, Guilherme Derrite, propunha equiparar crime organizado ao terrorismo, um alvo histórico da política de segurança norte-americana.

O comportamento do governo em relação à pauta da segurança pública se desenvolve diante do aumento da preocupação da população em relação ao tema, que pode figurar como determinante nas eleições presidenciais de 2026.



Fonte Metrópoles

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *