A guerra civil no Sudão do Sul entrou em uma nova e devastadora fase nos últimos dias. Após mais de 18 meses de combates entre o Exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF), o país vive o que a ONU classifica como a maior crise humanitária do planeta. A fome já atinge milhões de pessoas, especialmente na região de Darfur, onde o colapso total dos serviços e o cerco militar dificultam qualquer forma de socorro.
Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), cerca de 26 milhões de sudaneses enfrentam insegurança alimentar grave, e quase 5 milhões estão à beira da fome extrema.
Na última semana, Rebeldes do Sudão mataram mais de 460 civis em um hospital durante a tomada da cidade de El-Fasher, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O massacre ocorreu na Maternidade Saudita de El-Fasher, a última grande unidade médica em funcionamento na região de Darfur que ainda não estava sob controle das Forças de Apoio Rápido.
O bloqueio de estradas, a destruição de armazéns e os saques em comboios humanitários tornaram o envio de alimentos quase impossível. A cidade de El-Fasher, último reduto controlado pelo Exército em Darfur, caiu recentemente nas mãos das forças paramilitares, intensificando o cerco e ampliando o sofrimento civil.
“Estamos vendo comunidades inteiras morrerem de fome diante de nossos olhos. A resposta internacional está muito aquém do necessário”, alertou Cindy McCain, diretora-executiva do PMA, em comunicado divulgado na última sexta-feira (31/10).
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Contexto do conflito
- O conflito no Sudão opõe o Exército, comandado por Abdel Fattah al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido, lideradas por Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti.
 - O impasse começou após a disputa de poder entre os dois generais, que haviam atuado juntos no golpe militar de 2021. A guerra, que devastou a capital Cartum e se espalhou por todo o país, já deixou mais de 15 mil mortos e ameaça desestabilizar toda a região do Chifre da África.
 - A região de Darfur concentra ricas jazidas de ouro, controladas em grande parte pelas RSF.
 - Investigações apontam que o metal é contrabandeado para mercados do Oriente Médio.
 - O governo sudanês acusa a facção de transformar o ouro em “moeda de guerra”, trocando-o por armas e combustível.
 
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Violência e deslocamento
Desde o início do conflito, em abril de 2023, a ONU estima que mais de 10 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas, transformando o Sudão na maior crise de deslocamento interno do mundo.
Campos de refugiados superlotados se espalham nas fronteiras com o Chade, Sudão do Sul e Egito, onde faltam água, abrigo e medicamentos.
Relatórios da Anistia Internacional e da Human Rights Watch descrevem massacres étnicos e execuções sumárias em Darfur, especialmente contra comunidades Masalit.