Um ataque terrorista nesse domingo (14/12) deixou 16 mortos, incluindo um dos suspeitos, e pelo menos 42 feridos na famosa praia de Bondi, em Sydney, na Austrália. Dois atiradores abriram fogo durante cerca de dez minutos contra uma multidão que celebrava a Hanucá, a festa judaica das luzes. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, convocou nesta segunda-feira (15/12) uma reunião com os líderes dos governos estaduais e territoriais do país para discutir o reforço da legislação sobre armas de fogo.
“O que vimos ontem foi um ato antissemita e terrorista em nossas praias”, declarou Albanese ao depositar flores no local.
Os agressores, que são pai e filho, foram identificados como Sajid e Naveed Akram, segundo a polícia do estado de Nova Gales do Sul, onde fica Sydney. O primeiro, de 50 anos, foi morto pela polícia, e o segundo, de 24 anos, está ferido e hospitalizado em estado crítico. Os dois homens usaram “armas de longo alcance para atirar contra a multidão”, de acordo com os policiais.
Naveed Akram, cidadão australiano por nascimento, segundo o Ministério do Interior, era suspeito de manter contato com um membro do grupo Estado Islâmico (EI), preso em julho de 2019 e condenado por organizar um ato terrorista na Austrália.
Seu pai chegou pela primeira vez ao país com visto de estudante em 1998, segundo o ministro do Interior Tony Burke. Em 2001, ele obteve visto concedido a cônjuges de cidadãos australianos ou residentes permanentes. O homem de 50 anos tinha licença para seis armas de fogo, todas usadas no domingo, segundo a polícia.
Investigadores da brigada australiana de antiterrorismo estimam que os dois atiradores juraram lealdade ao grupo jihadista, segundo a emissora pública ABC. Duas bandeiras do EI foram encontradas no carro dos autores do ataque.
Quem são as vítimas?
Segundo a polícia, os dois atiradores mataram 15 pessoas, com idades entre 10 e 87 anos. A menina de dez anos morreu no hospital. Um engenheiro de informática francês de 27 anos, Dan Elkayam, também está entre as vítimas, segundo o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot.
Organizações judaicas locais identificaram entre os mortos um rabino nascido em Londres, Eli Schlanger, de 41 anos. Segundo a organização judaica hassídica Chabad Alex Kleytman, um sobrevivente do Holocausto, também morreu.
Quarenta e duas pessoas foram hospitalizadas durante a noite, cinco delas em estado crítico. Entre os feridos estão dois policiais atingidos durante troca de tiros com os agressores.
França abre investigação
Uma investigação foi aberta na França por “assassinato em conexão com uma organização terrorista” e “tentativa de assassinato em conexão com uma organização terrorista”. O inquérito está a cargo da Direção-Geral de Segurança Interna (DGSI) e da Subdireção Antiterrorista (Sdat) da Direção Nacional da Polícia Judiciária.
“O principal objetivo desta investigação é permitir que as vítimas e seus familiares residentes na França tenham acesso às informações sobre o andamento das investigações conduzidas pelas autoridades judiciais francesas e australianas e, por outro lado, fornecer suporte, assistência ou perícia técnica às autoridades judiciais australianas”, diz o comunicado.
Quem é o jovem francês que morreu no ataque
Dan Elkayam, jovem engenheiro de informática de 27 anos, apaixonado por futebol e viajante, é a vítima francesa do ataque contra judeus em Sydney. Ele havia se mudado para a Austrália há um ano.
Em nome da família, que está “arrasada”, seu irmão Jérémie Elkayam o descreveu na manhã de segunda-feira, à rádio Franceinfo, como “uma pessoa que vale ouro”. “Somos quatro irmãos e, para mim, ele era o mais gentil de todos”, disse Jérémie, que “jamais poderia acreditar que algo assim pudesse acontecer” na Austrália.
Ele descreveu o irmão como “alguém que aproveitava a vida, não era materialista, e que amava viajar”. Nos últimos três anos, ele esteve no México, Indonésia, Tailândia e Austrália, onde trabalhava desde dezembro de 2024 como engenheiro de computação.
O presidente do Crif (Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França), Yonathan Arfi, disse ter conversado com os pais de Dan Elkayam já na noite de domingo para expressar “a solidariedade e emoção” em nome das instituições judaicas francesas.
C’est avec une immense tristesse que nous avons appris que notre compatriote Dan Elkayam compterait parmi les victimes de l’attaque terroriste abjecte qui a frappé les familles juives rassemblées sur la plage de Bondi à Sydney, au premier jour de Hanouka.
Nous pleurons avec sa…
— Jean-Noël Barrot (@jnbarrot) December 14, 2025
A família do jovem está agora em contato com o Ministério das Relações Exteriores para organizar o repatriamento do corpo. O anúncio de sua morte foi feito no início da noite de domingo pelo ministro das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot.
“É com imensa tristeza que soubemos que nosso compatriota Dan Elkayam está entre as vítimas do ataque terrorista abjeto que atingiu famílias judaicas reunidas na praia de Bondi, em Sydney, no primeiro dia de Hanucá”, escreveu no X. O ministro mencionou “uma onda revoltante de ódio antissemita à qual devemos resistir”.
Homem é confundido com atirador
Um homem que vive em Sydney disse ter recebido ameaças de morte após ter sua foto divulgada nas redes sociais como sendo um dos atiradores de Bondi. A foto foi retirada do perfil do Facebook de Naveed Akram, que implorou em vídeo publicado pelo consulado do Paquistão em Sydney para que colocasse um fim aos rumores.
“Um dos atiradores se chama Naveed Akram, e eu também me chamo Naveed Akram”, explicou. “Não sou eu, não tenho nada a ver com o incidente nem com essa pessoa”, declarou, condenando a chacina. “Quero que todos me ajudem a acabar com essa propaganda”, acrescentou, pedindo aos usuários que denunciem as contas que usam sua foto, publicada originalmente em 2019.
Segundo ele, sua família, no Paquistão, também recebeu ligações. “Estou aterrorizado. Não posso sair, minha vida está em perigo, então não quero correr nenhum risco. Minha família também está preocupada, é um período muito difícil para mim.” O homem de 30 anos mudou-se para a Austrália em 2018 para estudar na Central Queensland University e depois fez mestrado no Holmes Institute, em Sydney.
Líderes mundiais reagem ao ataque
O ataque foi classificado como ato “terrorista” pela polícia e autoridades australianas já na noite de domingo, e na segunda-feira o primeiro-ministro Anthony Albanese voltou a denunciar um “ato puramente maligno, antissemita e terrorista”.
O presidente americano Donald Trump classificou o atentado como “terrível” e “puramente antissemita”. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “a Europa está ao lado da Austrália e das comunidades judaicas em todo o mundo”.
Em Israel, o presidente Isaac Herzog considerou o “ataque muito cruel contra judeus” perpetrado por “terroristas ignóbeis”. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu denunciou um “câncer que se espalha quando os líderes permanecem em silêncio e não agem”.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o presidente francês Emmanuel Macron também manifestaram solidariedade.
Atentado é capa de principais jornais franceses
O ataque terrorista na praia de Bondi, em Sydney, estampa as capas dos principais jornais franceses nesta segunda-feira (15).
“Terror antissemita” é a manchete do jornal Libération, que lembra que a tragédia ocorre em um contexto de aumento da violência contra judeus em todo o mundo. Esse é o pior atentado terrorista na Austrália, que adotou um dos controles de porte de armas mais rigorosos do planeta após um massacre em 1996.
O jornal Le Monde destaca que o jovem era monitorado pelas autoridades por sua proximidade com indivíduos radicalizados.
O Le Figaro lembra que a Austrália registra aumento da violência contra a comunidade judaica desde o início da guerra na Faixa de Gaza. No último ano, sinagogas de Sydney e Melbourne foram pichadas e alvo de tentativas de incêndio.
Restaurantes, lojas e locais frequentados por judeus australianos também são visados desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Em agosto, o governo da Austrália responsabilizou Teerã pelas agressões e expulsou o embaixador iraniano do país.
O jornal Le Parisien deu destaque para o ato heroico de Ahmed al Ahmed, vendedor de frutas em Sydney, que conseguiu imobilizar um dos terroristas e retirar sua metralhadora. Segundo a imprensa australiana, esse pai de família de 43 anos foi atingido por tiros e está hospitalizado.
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