Não culpe a IA por suas dificuldades no mercado de trabalho - 08/11/2025 - Mercado

Não culpe a IA por suas dificuldades no mercado de trabalho – 08/11/2025 – Mercado

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Chefes do setor de tecnologia raramente economizam nas previsões sobre a inteligência artificial. Ao longo do último ano, eles lotaram auditórios e redes sociais com alertas de um “apocalipse de empregos”. Sam Altman, da OpenAI, disse que “classes inteiras de profissões vão desaparecer”.

Dario Amodei, da Anthropic, prevê que a IA pode eliminar metade dos cargos iniciais de escritório e elevar o desemprego a dois dígitos. Elon Musk, como sempre, disse recentemente que “IA e robôs substituirão todos os empregos”.

Agora, o acerto de contas parece ter chegado. Gigantes como Amazon, Target e UPS anunciaram juntos cortes de mais de 30 mil empregos corporativos. A Amazon diz que precisa operar “de forma mais enxuta” enquanto investe em IA; a UPS cortou gestores para reduzir custos. A Meta também enxugou sua divisão de IA. As demissões recaem justamente sobre os trabalhadores de escritório —o grupo que o Vale do Silício sempre previu ser o mais atingido pela automação.

Nos Estados Unidos empresas anunciaram quase 1 milhão de cortes neste ano, 50% a mais que no mesmo período de 2024. Nos últimos três meses, a taxa de contratação caiu ao menor nível em uma década (excluindo a pandemia).

Mais de um quarto dos desempregados está sem trabalho há seis meses ou mais —algo raro fora de recessões. Jovens graduados são os mais afetados: o desemprego entre pessoas de 22 a 27 anos com diploma subiu mais de dois pontos percentuais desde 2023.

Para muitos, o timing parece revelador: à medida que as empresas alardeiam seus investimentos em IA, o baque recai sobre quem faz trabalhos mais automatizáveis. Até Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, sugeriu que companhias que “usam mais IA do que antes” podem estar contratando menos jovens.

Alguns estudos reforçam essa impressão. Pesquisadores de Stanford e Harvard mostram que o emprego entre trabalhadores de 22 a 25 anos em áreas expostas à IA, como desenvolvimento de software, caiu 13% desde o fim de 2022, enquanto funções menos expostas mantiveram ganhos parecidos entre jovens e veteranos.

Mas outras evidências apontam o contrário. O think tank Economic Innovation Group calculou que, entre 2022 e meados de 2025, o desemprego subiu apenas 0,3 ponto percentual entre os 20% de trabalhadores mais expostos à IA —menos do que entre os menos expostos.

O Laboratório Orçamentário de Yale também não encontrou sinais de disrupção tecnológica: desde o lançamento do ChatGPT, a composição ocupacional nos EUA mudou pouco. Analistas veem os cortes recentes como resultado de ajustes de custo típicos, não de uma “revolução da IA”.

A explicação mais simples é que a economia dos escritórios está apenas voltando ao normal após o boom da pandemia. Setores como tecnologia da informação, mídia e consultoria cresceram rápido em 2021 e 2022 —e agora se retraem.

Mesmo na área de software, as vagas dobraram no pós-pandemia e depois despencaram. “As startups contrataram como loucas”, diz Martin Casado, da Andreessen Horowitz. “Agora estão desfazendo o excesso.”

Há também um fator cíclico. O lançamento do ChatGPT coincidiu com o mercado de trabalho mais apertado em décadas. Desde então, o ritmo arrefeceu, e os jovens são sempre os primeiros a sentir a desaceleração. Historicamente, o desemprego entre eles cresce até duas vezes mais rápido que a média quando o ciclo vira.

Apesar de a tecnologia ainda não estar eliminando empregos de recém-formados, ela pode dificultar a recuperação quando a economia voltar a acelerar. A recompensa de um diploma universitário nos EUA já vem encolhendo há 20 anos. Agora, com a chegada da IA, talvez sobrem menos vagas para ocupar.

Texto de The Economist, traduzido por Gustavo Soares, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com



Fonte Original (clique aqui)

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