Um músico da Orquestra Sinfônica Municipal foi afastado após ter criticado, na internet, a produção da ópera “Macbeth”, atualmente em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo.
Brian Fountain, contrabaixista, é o representante legal da Associação dos Músicos do Theatro Municipal, a Amithem, que tem se posicionado fortemente contra a organização social gestora da casa, a Sustenidos, apontando supostas falhas de gestão.
A suspensão disciplinar deve durar 30 dias, e Fountain fica impedido de receber seu salário nesse período. O músico foi notificado da decisão nesta segunda (4).
Em suas redes sociais, ele chamou a montagem de “Macbeth” de “destruição da ópera e da música clássica no TMSP.”
O músico também acusou o ex-secretário municipal de Cultura Hugo Possolo de entregar o contrato de gestão à Sustenidos “através de uma pontuação ilegal”. Procurado, Possolo não quis se manifestar.
Segundo o documento de suspensão disciplinar, as publicações no Instagram têm “conteúdo ofensivo e calunioso contra o empregador”. Além disso, segundo o texto, representa falta grave, conforme a legislação trabalhista brasileira.
Por fim, a Fundação Theatro Municipal pede que o músico observe seu comportamento. “Para que não tenhamos, no futuro, de tomar outras medidas cabíveis previstas na legislação, solicitamos que observe atentamente as normas reguladoras da relação de emprego”, escreveram, por email.
Procurada, a Sustenidos afirma que não comenta procedimentos internos de gestão de pessoas, “com o intuito de preservar os colaboradores”.
“Chama atenção o prazo da penalidade de 30 dias, porque é o máximo permitido pela CLT”, diz o advogado do músico, Gabriel Franco. “Medidas disciplinares dessa duração são extremamente raras, sendo cabíveis apenas em situações de gravíssima conduta funcional, o que não se verifica no caso.” Para o advogado, os posts de Fountain se encaixam como liberdade de expressão.
A montagem de “Macbeth”, ópera de Verdi, no Theatro Municipal foi recebida de forma enérgica pela plateia na noite de sua estreia, na última sexta (31). Houve vaias e brados agressivos, e algumas pessoas optaram por sair do espetáculo.
Quando a diretora, Elisa Ohtake, apareceu no palco ao fim da apresentação, vieram vaias. Entre os revoltosos, estava o vereador Adrilles Jorge (União Brasil), ex-comentarista conservador da Jovem Pan e figura conhecida por embarcar e inflar guerras culturais.
O caso é mais um capítulo de uma guerra ideológica que foi conflagrada, nos últimos quatro anos, nesse que é um dos palcos mais importantes do país. De um lado, a Sustenidos é acusada de ter direção artística orientada por pautas ligadas à esquerda, envolvendo a busca por mais diversidade e a desconstrução da ópera, da música clássica e da dança contemporânea.
Do outro, vereadores conservadores, aliados a Ricardo Nunes (MDB), se posicionaram contra a gestora, por uma suposta doutrinação ideológica no teatro.
No mês passado, o prefeito Ricardo Nunes pediu a rescisão do contrato da administradora Sustenidos com o teatro. Isso aconteceu após o diretor de elenco do Municipal, Pedro Guida, ter compartilhado um vídeo visto por parte dos espectadores como uma comemoração do assassinato do influenciador trumpista Charlie Kirk.