O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta atrair o apoio dos Estados Unidos para a estratégia de combater ao crime organizado internacional que prioriza a desarticulação financeira das cúpulas criminosas — o “andar de cima”, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, refere-se aos níveis hierárquicos mais elevados do mundo crime.
Um sinal da estratégia do governo federal de buscar o alinhamento dos EUA no combate às organizações criminosas ocorreu nessa terça-feira (2/12). Lula conversou com o presidente norte-americano, Donald Trump, por cerca de 40 minutos por telefone e, conforme nota do Palácio do Planalto, reforçou “a urgência em reforçar a cooperação com os EUA para combater o crime organizado internacional”.
Palavra de ordem é cooperação
- Nas operações contra o crime organizado destacadas pelo governo federal, as autoridades têm enfatizado o trabalho conjunto de órgãos de controle financeiro.
- Neste cenário, ministros têm enfatizado as atuações da Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
- O tema segurança pública tem ganhado evidência nas últimas semanas diante do crescimento desta pauta em pesquisas sobre a maior preocupação dos brasileiros.
- O governo federal e governadores de direita se dividem no discurso sobre as estratégias de enfrentamento da questão. Os governadores se apresentam, em sua maioria, como linha dura e exaltam o enfrentamento direto.
“(Lula) destacou as recentes operações realizadas no Brasil pelo governo federal com vistas a asfixiar financeiramente o crime organizado e identificou ramificações que operam a partir do exterior”, diz trecho da nota oficial.
As ramificações no exterior citadas por Lula têm relação com a Operação Poço de Lobato. Nas investigações, conforme Haddad, foi identificado que os alvos das autoridades, envolvidos com o Grupo Refit, atuavam com suposta evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
“Estão utilizando o estado Delaware, nos Estados Unidos, em operações de lavagem de dinheiro. Na operação, são abertas dezenas de empresas. No esquema você faz um empréstimo para esses fundos e (os recursos) voltam na forma de aplicação lícita em atividades econômicas no Brasil, mas o dinheiro que vai para lá não é lícito”, afirmou Haddad na última quinta-feira (27/11).
Naquela última quinta-feira, Haddad também citou outra prática criminosa passando pelo Brasil e pelos EUA para justificar um termo de cooperação contra o crime organizado internacional. Conforme o ministro, peças de reposição de armamentos têm partido dos Estados Unidos ilegalmente e chegado ao Brasil para abastecer o crime organizado.
“Você compra uma mercadoria e, no meio do contêiner, vêm as peças de reposição ou o próprio armamento. Isso está acontecendo no Brasil. Se nós tivermos um controle lá na saída (nos EUA) e um aqui na entrada, vai aumentar a nossa eficiência”, afirmou o ministro.
O Planalto afirmou que Trump reagiu positivamente à demanda apresentada por Lula. “Trump ressaltou total disposição em trabalhar junto com o Brasil e que dará todo o apoio a iniciativas conjuntas entre os dois países para enfrentar essas organizações criminosas.”
O foco no “andar de cima”
O governo federal já deixou claro o discurso de combate ao crime focado no “andar de cima”. O Executivo tem se valido das últimas operações que miram as finanças do criminosos no Brasil para tentar se posicionar no debate do combate à violência, uma pauta dominada pelo espectro político da direita.
No dia 28 de agosto deste ano, a Operação Carbono Oculto desmontou um esquema que operava na venda de combutíveis, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. O arranjo criminoso tinha associação com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e ramificações em parte da Faria Lima, centro financeiro do país.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou a Operação Carbono Oculto como “a maior da história contra o crime organizado”. Haddad enalteceu a operação ao dizer que ela atingiu “o andar de cima do sistema”.
Disputa política
A oposição, por outro lado, também se movimenta em relação à segurança pública. O Projeto de Lei nº 5.582, conhecido como PL Antifacção, foi apresentado pelo Executivo, mas a versão final, aprovada na Câmara e que tramita no Senado, ficou com o texto final distante dos conceitos defendidos pelo Planalto.
Uma movimentação da direita poderia levar a uma associação dos EUA ao combate ao crime organizado. Em uma das versões que apresentou, o relator do PL Antifacção na Câmara, Guilherme Derrite, propunha equiparar crime organizado ao terrorismo, um alvo histórico da política de segurança norte-americana.
O comportamento do governo em relação à pauta da segurança pública se desenvolve diante do aumento da preocupação da população em relação ao tema, que pode figurar como determinante nas eleições presidenciais de 2026.



