O Copom (Comitê de Política Monetária) deve manter nesta quarta-feira (5) a taxa básica de juros (Selic) inalterada em 15% ao ano e optar por uma comunicação conservadora, apesar da recente melhora nas expectativas de inflação.
Entre 31 instituições consultadas pela Bloomberg, todas esperam a manutenção da taxa.
A tendência, na visão dos economistas, é que o colegiado do Banco Central evite dar pistas sobre quando pretende iniciar o ciclo de corte de juros. Mas a aposta do mercado financeiro é que o afrouxamento da política monetária comece apenas em 2026.
Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da Pinotti & Schwartsman, espera que o Copom reconheça a evolução favorável do cenário econômico nas últimas semanas, mas adote um tom mais sóbrio para evitar um clima “de oba-oba” no mercado.
“Acho que o Banco Central vai saudar a melhora das expectativas, um ponto que era bastante incômodo para eles [diretores], mas também não vai cantar vitória, porque as expectativas seguem ainda muito descoladas da meta”, afirma.
Desde a reunião anterior, em setembro, as projeções para a inflação coletadas pelo boletim Focus recuaram de 4,3% para 4,2% para 2026 e de 3,93% para 3,8% para 2027 –janela de tempo na mira do BC devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia.
O objetivo central perseguido pelo BC é de 3%. No modelo de meta contínua, o alvo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
Schwartsman vê chances “bastante sólidas” de o colegiado do BC começar o processo de redução dos juros no primeiro trimestre de 2026. À luz dos dados recentes, ele se diz mais propenso a apostar em cortes em janeiro –na primeira reunião do ano– do que em março.
Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, a manutenção da Selic em 15% ao ano reforçará a estratégia do Copom de demonstrar prudência e compromisso com o processo de desinflação em curso.
Ela considera que, ao citar a necessidade de avaliar “se a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, o Copom adota uma comunicação eficaz no controle das expectativas.
Mas a economista não descarta um ajuste marginal no texto desta quarta, com a possibilidade de supressão do advérbio “bastante” no trecho utilizado no encontro anterior.
“Tal movimento conferiria ao comitê maior grau de flexibilidade para ajustes futuros, sem alterar, contudo, o diagnóstico central de política monetária”, afirma. “Se deixar o ‘bastante prolongado’, a chance de corte em janeiro vai a zero”, acrescenta.
O cenário mais provável hoje, na avaliação da estrategista da Warren, é que o ciclo de cortes de juros comece na largada de 2026. Mas alguns fatores podem empurrar a flexibilização dos juros para o encontro seguinte, em março.
Entre os riscos para a inflação em 2026, ano eleitoral, Angelo cita a possibilidade de a atividade econômica se mostrar mais forte do que a esperada. Há preocupação de que medidas de estímulo fiscal –como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais (em tramitação no Congresso)– impulsionem a demanda doméstica.
A chance de deterioração do câmbio, hoje mais comportado com o dólar global mais fraco, também preocupa. “O mercado pode colocar alguma coisa de risco implícito de ambiente externo aqui dentro. Prêmio de risco [rentabilidade adicional cobrada pelos investidores no Brasil] aumentar aqui por alguma ingerência do governo no momento eleitoral”, afirma.
O economista Gustavo Rostelato, Armor Capital, projeta que os juros comecem a cair a partir de março de 2026, mas não descarta a possibilidade de os cortes tenham início mais cedo, em janeiro, caso haja uma melhora das expectativas de inflação mais acentuada.
“A gente tem visto uma inflação corrente um pouco melhor do que o esperado. Se isso se concretizar até o final do ano, poderia fazer com que as expectativas de inflação cedessem mais rápido. Seria um cenário para trazer o corte de março para janeiro, por exemplo”, diz.
Para ele, a comunicação utilizada pelo Banco Central até agora tem ajudado nesse processo de levar as expectativas de inflação em direção à meta e o comitê deve continuar nessa toada mais conservadora para colher frutos adiante.
“Para chegar mais próximo do processo de ancoragem [convergência à meta], eles [membros do BC] precisam continuar com um tom um pouco mais hawkish [duro]. Eles estão num movimento correto”, afirma.
Na visão do economista, a revisão para baixo das expectativas para prazos mais longos, como 2027 e 2028, pode dar “algum conforto” para o Copom observar uma ligeira melhora em suas próprias projeções para a inflação, de 0,1 ponto percentual. No encontro anterior, a estimativa para o primeiro trimestre de 2027 estava em 3,4%.
“Não é uma alteração muito substancial, não é algo que vai fazer o Banco Central necessariamente cortar mais rápido ou cortar mais cedo, mas é uma sinalização”, diz.