O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enviou uma carta aos líderes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) reunidos em Santa Marta, na Colômbia, pedindo uma resposta continental unificada as operações militares no Caribe, que já causou mais de 70 mortes de civis no mar, segundo autoridades regionais.
“O princípio em jogo hoje é claro e decisivo: a soberania dos Estados e a livre autodeterminação dos povos. A Venezuela declara isso com absoluta clareza: não aceita e não aceitará nenhuma tutela”, escreveu Maduro. “Não aceitamos que, sob eufemismos como ‘segurança’ ou ‘combate ao narcotráfico’, esteja sendo imposta a antiga Doutrina Monroe”, acrescentou.
Formulada em 1823, a Doutrina Monroe foi uma política externa dos EUA que defendia que nenhuma potência europeia deveria interferir nos assuntos das Américas.
Embora apresentada como medida de proteção aos países recém-independentes da região, ao longo do tempo ela passou a ser interpretada como um instrumento de hegemonia norte-americana.
Do local onde Simón Bolívar fez sua última proclamação, em 1830, Maduro traçou um paralelo histórico entre a expedição espanhola de reconquista de 1815, comandada por Pablo Morillo, e o atual deslocamento de porta-aviões e submarinos nucleares nas águas do Caribe.
Leia também
-
Avião de Maduro derruba cerca em aeroporto da Venezuela
-
Maduro muda tom e prepara Venezuela para “luta armada” contra os EUA
-
Maduro acusa presidente do Equador de narcotráfico junto com os EUA
-
Maduro ironiza “fama” de ditador: “Não fui formado em Harvard”
Queixas à ONU e crítica aos EUA
A carta ainda menciona denúncias levadas ao Conselho de Segurança da ONU, onde, segundo Maduro, os Estados Unidos “reconheceram seus crimes”. O presidente venezuelano acusa as forças norte-americanas de cometerem possíveis execuções extrajudiciais sob o pretexto de combate ao narcotráfico.
Maduro afirmou ainda que o atual contexto representa um ressurgimento da Doutrina Monroe, formulada em 1823, e propôs que a região eleve a “Doutrina Bolivariana” como novo princípio de independência e soberania regional.
CELAC como instrumento estratégico
O chefe de Estado venezuelano lembrou que a CELAC foi fundada em Caracas, em 2011, como alternativa diplomática regional que exclui os Estados Unidos e o Canadá. Ele citou o ex-presidente Hugo Chávez, que declarou à época que “só a união nos libertará”.
Na carta, Maduro apresentou quatro exigências principais:
- Proclamar a América Latina e o Caribe como Zona de Paz;
- Rejeitar categoricamente a militarização do Caribe;
- Exigir uma investigação independente das mortes registradas;
- Criar mecanismos regionais de cooperação humanitária e defesa coletiva.
4 imagens

Fechar modal.

Presidente da Venezuela, Nicólas Maduro
Jesus Vargas/Getty Imagens
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro
Jesus Vargas/Getty Images
Venezuela realizou eleição em Essequibo, território da Guiana
Zurimar Campos/Presidência da Venezuela
Nicolás Maduro
Divulgação/Assembleia Nacional da Venezuela
O líder chavista também reiterou a condenação ao bloqueio contra Cuba, chamando-o de “criminoso e desumano”, e criticou as sanções individuais da União Europeia, que, segundo ele, “acabam violando direitos fundamentais”.
No documento, Maduro evoca três momentos centrais do pensamento bolivariano: a Carta da Jamaica (1815), o Congresso de Angostura (1819) e o Congresso Anfictiônico do Panamá (1826) — este último, segundo Maduro, prejudicado por “interesses imperiais”.
“Não permitamos que a mesquinhez de potências externas ou a ambição de algumas oligarquias nos dividam”, escreveu.