O presidente dos EUA, Donald Trump, atravessou mais uma semana turbulenta. Mesmo após sancionar o fim do shutdown, o republicano enfrenta nova pressão: democratas divulgaram mais de 20 mil páginas de documentos e e-mails do criminoso sexual Jeffrey Epstein, que mencionam Trump diversas vezes e reacendem suspeitas antigas que o presidente tenta enterrar.
O Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes divulgou na última semana um extenso novo lote de arquivos do espólio de Epstein, solicitado por intimação no início do ano. Os documentos, que incluem e-mails trocados pelo bilionário ao longo de 15 anos, voltam a colocar Trump no centro da discussão pública.
Entre as trocas reveladas, Epstein menciona Trump diversas vezes, ironiza seu estado mental, sugere segredos comprometedores e discute episódios envolvendo figuras próximas ao republicano. As mensagens também mostram Epstein coordenando, com Ghislaine Maxwell, estratégias de comunicação sobre acusações de abuso sexual.
A Casa Branca minimizou o conteúdo, com a porta-voz Karoline Leavitt afirmando que os documentos “não provam absolutamente nada” contra o presidente.
“Eu sei o quão sujo Donald é”, disse Epstein
Os e-mails revelam que Epstein fazia comentários duros sobre o republicano em diferentes momentos. Em 2017, chamou o então futuro presidente de “completo maluco” em mensagem a um repórter do New York Times.
No ano seguinte, disse ao ex-secretário do Tesouro Larry Summers que Trump era “quase insano” e afirmou à ex-conselheira da Casa Branca Kathryn Ruemmler que “sabia o quão sujo Donald é”, numa referência a possíveis escândalos.
As trocas ocorreram no período em que o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, se declarava culpado por crimes federais ligados ao caso Stormy Daniels.
Os arquivos também sugerem que Epstein insinuou ter material comprometedor envolvendo o atual presidente norte-americano. Em 2015, afirmou que poderia divulgar “fotos de Donald e garotas de biquíni na minha cozinha” e citou uma modelo dos anos 1990 que teria sido “entregue a Donald”. Nada foi comprovado, e Trump sempre negou qualquer irregularidade.
Outro trecho dos documentos mostra Epstein contestando a versão de Trump sobre o rompimento entre eles. Em mensagens ao escritor Michael Wolff, disse que “nunca foi membro” do clube Mar-a-Lago e contrariou a narrativa de que teria sido expulso por assediar funcionárias, insinuando ainda que Trump “sabia das meninas”.
Caso Jeffrey Epstein
- Jeffrey Epstein, ex-financista bilionário, foi acusado de operar uma rede de exploração sexual envolvendo meninas menores de idade entre os anos 1990 e 2000.
- As primeiras denúncias ganharam força em 2005, levando a uma investigação policial que se estendeu por anos.
- Em 2008, Epstein fechou um acordo judicial, admitiu parte das acusações e recebeu uma pena reduzida, cumprindo pouco mais de um ano em regime diferenciado antes de ser libertado em 2009.
- O caso voltou ao centro do noticiário em 2019, quando uma nova investigação federal resultou em sua prisão por tráfico sexual. Menos de três semanas depois, em agosto daquele ano, Epstein foi encontrado morto em sua cela em Manhattan.
- As autoridades concluíram que ele cometeu suicídio.
Um e-mail com frase enigmática
Os documentos também trazem o episódio enigmático devido à expressão “o cão que não latiu”.
Em um e-mail de 2 de abril de 2011, Epstein escreveu a Ghislaine Maxwell que “o cão que não latiu é Trump”, sugerindo que Virginia Giuffre — identificada dessa forma por republicanos do Comitê de Supervisão da Câmara — teria passado horas na casa dele com o então futuro presidente, sem nunca o mencionar em suas acusações.
Ecos que chegaram até Brasília: de Trump a Lula e Bolsonaro
A divulgação dos documentos revelou referências inesperadas ao Brasil. Em um dos e-mails, datado de 2018, Epstein escreve: “Chomsky me ligou com Lula. Da prisão. Que mundo.”
Ao Metrópoloes, a Secretaria de Comunicação da Presidência negou de forma categórica que tal ligação tenha ocorrido. O registro, porém, coincide com a visita de Chomsky a Lula em 20 de setembro de 2018 — um dia antes do envio da mensagem.
Outro e-mail mostra Epstein se referindo a Jair Bolsonaro, que na época era então candidato à Presidência, como “o cara”. Os documentos não trazem contexto adicional sobre o diálogo nem identificam o interlocutor, deixando em aberto o motivo da menção.
Trump acusa democratas e anuncia investigação federal
Em meio ao desgaste político do shutdown, e sua queda de popularidade, o líder dos EUA tenta reagir ao novo baque. Nas redes sociais, chamou a divulgação dos arquivos de “farsa”, acusou democratas de “desviarem o foco” e ordenou à procuradora-geral Pam Bondi que abrisse uma investigação ampla sobre relações de Epstein com figuras como Bill Clinton, Larry Summers, Reid Hoffman e executivos do JP Morgan.
A divulgação dos e-mails provocou ainda uma corrida no Legislativo. A deputada Adelita Grijalva tomou posse e se tornou o 218º voto necessário para obrigar a Câmara a deliberar sobre a liberação integral dos arquivos do Departamento de Justiça ligados a Epstein.
Enquanto isso, deputadas republicanas como Lauren Boebert e Nancy Mace — ambas sobreviventes de violência sexual — se recusaram a retirar seus nomes da petição. O presidente da Câmara, Mike Johnson, anunciou que colocará em votação, já na próxima semana, um projeto que obriga a divulgação total dos arquivos.




