O ano de 2025 foi marcado pela imposição de tarifas elevadas pelos Estados Unidos sobre produtos importados de dezenas de países, incluindo itens brasileiros. O presidente Donald Trump justificou a medida contra o Brasil com alegações políticas, especialmente em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, então réu no Supremo Tribunal Federal (STF), e atualmente condenado por tentativa de golpe. As tarifas chegaram a 50% para determinados produtos, incluindo carne bovina, café, frutas, vegetais, minérios, aço e alumínio.
Ao Metrópoles, especialistas avaliaram que a saga do tarifaço em 2025 trouxe lições importantes sobre a condução da política comercial norte-americana.
As tarifas impostas pelo governo Trump afetaram principalmente setores brasileiros ligados ao agronegócio e à indústria de metais, segundo o professor Hugo Garbe, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “O impacto imediato incluiu queda nas exportações, redução de margens e ociosidade em plantas industriais. No médio prazo, houve redirecionamento de vendas para outros mercados, diminuição de preços e aumento do custo de financiamento devido à maior incerteza regulatória”, explicou o especialista.
Mônica Araújo, economista chefe da InvestSmart XP, destacou que “mesmo os países que têm pouca abertura comercial, como é o caso do Brasil, sofreram com a implementação de tarifas elevadas, cuja justificativa, no caso brasileiro, superava questões comerciais e considerava principalmente questões políticas.”
Além disso, decisões de Trump, como a imposição de tarifas e ameaças, são frequentemente táticas de pressão e não objetivos permanentes. Para a economista, mesmo com a flexibilização alcançada, a imprevisibilidade da política norte-americana mantém o cenário global de comércio em constante atenção.
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Início do conflito comercial com os EUA
- O tarifaço imposto pelo governo Trump sobre produtos brasileiros começou oficialmente em 6 de agosto de 2025, marcando o ápice de uma escalada comercial que se desenrolou ao longo do ano, misturando economia e política.
- A medida elevou a alíquota de importação para 50% sobre itens brasileiros não incluídos na extensa lista de isenções, que abrangeu 694 produtos.
- A escalada teve início em fevereiro, com a tarifa de 25% sobre ferro e aço, seguida por uma tarifa recíproca de 10% aplicada em abril, e o aumento para 50% sobre o mesmo setor em maio.
- Trump justificou as sobretaxas como proteção à indústria local e resposta a políticas brasileiras consideradas “desfavoráveis”, enquanto ações políticas, como a suspensão de vistos de ministros do STF e sanções sob a Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, ampliaram o caráter diplomático e político do conflito.
- O impacto foi sentido principalmente nos setores de agronegócio, indústria de metais, café, frutas e calçados, pressionando Brasília a buscar diálogo e medidas de apoio sem recorrer a retaliações diretas.
Flexibilização parcial e negociações diplomáticas
Em novembro, o republicano assinou uma ordem executiva que reduziu parte das tarifas sobre produtos agrícolas brasileiros. Com a decisão, tarifas de 40% sobre carne bovina fresca, resfriada ou congelada, produtos de cacau e café, frutas, vegetais, nozes e fertilizantes foram zeradas — seguindo apenas a tarifa padrão de 10%, adotada sobre todos os países.
À época, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que “o próximo passo é diminuir as taxas que atingem o setor industrial”. O chanceler Mauro Vieira confirmou que o Brasil apresentou aos EUA uma “proposta geral” sobre o tarifaço e espera que a negociação preliminar sirva de base para acordos mais amplos nos próximos meses. “Temos que esperar que eles reajam”, disse Vieira.
Segundo o Planalto, a Casa Branca considerou haver “progresso inicial” nas negociações, iniciadas após uma ligação entre Lula e Trump em outubro, que abriu caminho para a revisão da medida punitiva.
Relação entre Lula e Trump
No início de dezembro, Lula conversou — novamente — por cerca de 40 minutos com Trump. O presidente brasileiro agradeceu a retirada parcial das tarifas e reforçou a importância de avançar nas negociações. Ele ainda solicitou cooperação americana no combate ao crime organizado internacional. O Planalto afirmou que Trump demonstrou “total disposição” para trabalhar com o Brasil e apoiar ações conjuntas entre os dois países.
O professor Hugo Garbe destaca que os Estados Unidos usam tarifas como “instrumento de pressão e negociação”. “O Brasil, por sua vez, precisa proteger empregos, exportações e a receita do agronegócio. A soma desses interesses levou à abertura de um canal de diálogo.”
A imprensa internacional destacou que o Brasil conseguiu reverter parcialmente a ofensiva tarifária de Donald Trump, mostrando que uma postura firme pode influenciar negociações e que é preciso diferenciar táticas de objetivos na política americana.
“Após o choque inicial, os dois governos passaram a negociar reduções parciais das tarifas e ampliaram a pauta para temas como comércio, segurança e estabilidade regional”, avaliou o especialista.
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Próximos passos para 2026
O Planalto aguarda uma nova rodada de negociações com os EUA em janeiro de 2026, com expectativa de superar o impasse comercial até o fim do primeiro semestre. Paralelamente, Lula busca ampliar parcerias internacionais:
- Fevereiro: viagem à Índia para visita de Estado e negociações sobre abertura do mercado indiano e cooperação em digitalização de serviços públicos.
- Abril: participação na Hannover Messe, na Alemanha, para abertura de novos mercados para biocombustíveis.
- Junho: possível ida à França para reunião do G7, dependendo da situação comercial com EUA e União Europeia.
- Novembro: reunião do G20 nos Estados Unidos.
Importadores brasileiros afetados pelo tarifaço podem solicitar reembolso das tarifas cobradas indevidamente desde a entrada em vigor da nova regra. A medida visa aliviar pressões sobre cadeias exportadoras e conter efeitos indesejados no mercado americano.
Por fim, Mônica Araújo avalia que “mesmo com a manutenção das atuais tarifas para o Brasil, não é esperado impacto relevante para a economia brasileira em 2026, dado que já houve realocação de parte dos produtos para outros mercados e retirada parcial das tarifas para diversos setores.”