A vitória de José Antonio Kast na eleição presidencial do Chile marca uma guinada significativa no cenário político chileno e aprofunda a polarização ideológica na América Latina. Líder da direita e fundador do Partido Republicano, Kast assume após quatro anos de um governo progressista comandado por Gabriel Boric, encerrando um ciclo marcado por pautas identitárias, ambientais e forte defesa do multilateralismo.
Eleito com mais de 58% dos votos, segundo o Serviço Eleitoral do Chile (Servel), Kast se tornará, em março de 2026, o presidente mais à direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.
Guinada ideológica em um cenário regional polarizado
A eleição de Kast ocorre em meio à crescente polarização política na América Latina. Nos últimos anos, governos alinhados à direita ganharam espaço em países como Argentina, El Salvador e, mais recentemente, Chile, em contraposição a administrações de esquerda no Brasil, Colômbia e Uruguai.
Parte desses governos tem adotado posturas mais soberanistas e alinhadas aos Estados Unidos, ainda que nem todos estejam diretamente vinculados ao trumpismo.
O fenômeno vai além de uma alternância ideológica tradicional e reflete o fortalecimento de discursos antissistema, críticos ao multilateralismo e às instituições regionais.
Prioridades do novo governo
Entre as principais promessas de campanha estão:
- endurecimento no combate ao crime organizado;
- fechamento de fronteiras e expulsão de imigrantes irregulares;
- flexibilização das leis trabalhistas;
- redução de impostos corporativos;
- corte de gastos públicos;
- revisão de políticas ambientais;
- revogação dos direitos ao aborto legal e proibição da pílula do dia seguinte.
Kast afirmou que divulgará, a partir de janeiro, os nomes de ministros e subsecretários, sinalizando que pretende combinar figuras do Partido Republicano com quadros experientes da direita tradicional.
Mudanças esperadas na política externa chilena
No plano internacional, a eleição de Kast deve provocar uma reorientação da diplomacia chilena.
A expectativa é de uma política externa mais pragmática e ideologicamente alinhada a governos conservadores, com menor protagonismo em iniciativas de integração regional e cooperação internacional.
Governos mais alinhados à direita costumam priorizar agendas nacionais e soberanistas, o que pode reduzir o engajamento chileno em acordos multilaterais.
Alinhamento com líderes conservadores
José Antonio Kast mantém afinidade ideológica com líderes como Javier Milei, na Argentina, Nayib Bukele, em El Salvador, Jair Bolsonaro, no Brasil, e Donald Trump, nos Estados Unidos.
Logo após sua vitória, Kast visitou Milei em Buenos Aires, onde ambos celebraram o avanço da direita na região e discutiram ações conjuntas, especialmente no controle da imigração ilegal.
Inspirado no modelo de segurança de Bukele, Kast chegou a visitar megaprisões em El Salvador e defende políticas de “mão dura” contra o crime organizado.
Na campanha, prometeu criar uma força policial especializada nos moldes do ICE norte-americano para rastrear e deportar imigrantes em situação irregular.
Imigração e confronto com governos de esquerda
O presidente eleito já anunciou a intenção de endurecer a política migratória, defendendo a criação de um “corredor humanitário de devolução” para imigrantes irregulares. Kast afirmou que a migração, sobretudo de venezuelanos, pressionou áreas como saúde, educação e segurança pública no Chile.
Durante a mesma agenda, classificou a Venezuela como uma “narcoditadura” e afirmou apoiar “qualquer iniciativa que ponha fim a um regime autoritário”, inclusive uma eventual intervenção liderada pelos Estados Unidos — declaração que gerou forte reação de governos de esquerda.
Congresso dividido e desafio da governabilidade
Apesar da vitória expressiva, Kast enfrentará um Congresso fragmentado. Nenhuma força política terá maioria absoluta na Câmara ou no Senado, o que obrigará o novo governo a negociar para aprovar reformas estruturais.
Na Câmara dos Deputados, o bloco de direita soma 76 cadeiras, apenas duas a menos que a maioria absoluta. No Senado, a direita reúne exatamente metade das vagas.





