A isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000, aprovada no Senado nesta quarta (5), deve trazer um custo maior do que o governo pode arrecadar com a taxa dos super-ricos, afirmou nesta quinta (6) a jornalista e colunista da Folha Adriana Fernandes durante a C-Level Call.
Segundo Adriana, a aprovação da medida é uma decisão histórica, que corrige uma defasagem prolongada da tabela de imposto de renda. No entanto, ainda traz risco fiscal, já que não é certa a neutralidade prevista pelo governo, em que a taxação dos milionários compensaria a perda de arrecadação.
Um cálculo da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado prevê perda de arrecadação de R$ 1 bilhão. Já Consultoria do Senado aponta impacto fiscal negativo de R$ 4 bilhões por ano.
“Quando você aumenta o número de pessoas que deixam de pagar imposto de renda, você perde arrecadação. Isso traz impacto no orçamento da União. O governo fala que não há risco, vamos ver o que vai acontecer na prática”, disse Adriana durante a Call.
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A aprovação no Senado ocorreu de forma simbólica, sem a contagem de votos. Na Câmara dos Deputados, a votação foi unânime (com 493 votos a favor e nenhum contra).
Para o jornalista André Borges, os parlamentares tentarão usar a aprovação da medida para agradar eleitores, às vésperas do pleito em 2026. Ele citou como exemplo o deputado Arthur Lira (PP-AL), que já tem usado de seu papel como relator do projeto na Câmara para angariar votos.
“Todo mundo quer tirar um pedacinho. Esse assunto, no ano que vem, tende a ganhar força. O governo procura marcas e uma maneira de calibrar a gestão. É um dos assuntos que vai entrar na conta.”
GALÍPOLO PAGA O PREÇO DE JUROS ELEVADOS
A manutenção da taxa Selic em 15%, anunciada nesta quarta (4) pelo Banco Central, vai na contramão dos desejos do setor produtivo e do próprio governo. Segundo Adriana Fernandes, que também é repórter especial, o comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária) foi duro e conservador ao defender a necessidade de juros elevados por um período prolongado.
Ela lembrou que a decisão do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, tem gerado críticas até entre integrantes do governo. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que, se fosse diretor da autoridade monetária, votaria pela queda nos juros.
“Galípolo paga o preço. Com as críticas ao ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto e aos juros praticados por ele, havia uma percepção de que o Galípolo ia ser leniente com o combate à inflação. Então, ele tem que ser mais duro”, afirmou Adriana.
A jornalista disse ainda que a economia segue ativa, apesar do ciclo de aperto monetário. Por outro lado, ao longo do governo Lula, não houve convergência da política fiscal, com expansão de gastos do governo e contas públicas, segundo Adriana.
ACORDOS FECHADOS EM COP COSTUMAM GERAR FRUSTRAÇÃO
Com a chegada da COP30 em Belém, a Noruega anunciou investimento de US$ 3 bilhões no Fundo Florestas Tropicais para Sempre. Com a verba, o fundo chegou a US$ 5,6 bilhões.
Para André Borges, o debate tem girado em torno dos aportes de países estrangeiros, mas ainda há poucas discussões sobre metas diretamente ligadas com a causa ambiental, como o desmatamento.
Isso porque, em conferências voltadas ao meio ambiente, embora exista o investimento, os acordos voltados para reduzir o desmatamento e combater mudanças climáticas são muitas vezes descumpridos, segundo o jornalista.
“Com sorte, que essa não seja uma COP que todo mundo vê, que gera uma frustração enorme. O resultado é uma frustração enorme”, afirmou.
Hoje, não há um imposto global voltado a essa causa, mas há um movimento político para que gestores instituam programas que tratem do meio ambiente.
“As mudanças climáticas estão acontecendo muito rápido, enquanto a diplomacia é mais lenta. Esse é o grande desafio, fazer as coisas andarem um pouco mais rápido, porque o tempo exige isso”, disse Adriana Fernandes.