Edicarla Correia de Sá
Pedagoga pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Assistente Social pela Universidade Norte do Paraná
Mestra em Educação e Diversidade pela UNEB
OUÇA AQUI
Outro dia em uma formação com escolas particulares do nosso município (Senhor do Bonfim) falei sobre a responsabilidade afetiva que temos com o outro, e para trazer o tema para o centro da discussão utilizei a famosa frase do texto de ‘O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry,
“Tu te tornar eternamente responsável por aquilo que cativas”

Talvez muito assustador a priori, ou romântico demais, mas vejamos – enquanto profissionais da educação somos levados a construir laços afetivos com aquelas pessoas que encontramos em nosso cotidiano, em muitos casos não serão laços profundos, um professor e um aluno em poucos casos serão ‘amigos’ no entendimento mais profundo de amizade, que se leva tempo e conhecimento do outro, além de confiança.
Mas por outro lado, um professor, independente da modalidade que atue e de quantos alunos tenha, ele deseja o melhor, o melhor aprendizado e as melhores experiências educacionais para todos os seus alunos, e esta relação é baseada especialmente em respeito, e portando, afeto, no sentido de ‘afetar’, tocar o outro deixando marcas positivas de atenção, respeito, oportunidades e trocas de aprendizagem.
Esta responsabilidade afetiva também deve, ou espera-se que seja, construída nas relações interpessoais entre os profissionais. Quando não existe o respeito não existe saúde no ambiente profissional, e se nesse caso, não existe possibilidade de mudança de condições, para um ambiente adoecedor, a melhor opção é o afastamento.
Existe uma parábola sobre sementes, a história conta sobre um semeador que lança sementes em diferentes tipos de solo e observa o crescimento das plantas, a parábola conta:
“—Certo homem saiu para semear. Enquanto semeava, uma parte das sementes caiu à beira do caminho e os pássaros vieram e as comeram. Outra parte caiu no meio de pedras, onde havia pouca terra. Essas sementes brotaram depressa pois a terra não era funda, mas, quando o sol apareceu, elas secaram, pois não tinham raízes. Outra parte das sementes caiu no meio de espinhos, os quais cresceram e as sufocaram. Uma outra parte ainda caiu em terra boa e deu frutos, produzindo trinta, sessenta e até mesmo cem vezes mais do que tinha sido plantado.”

Fazendo uma analogia com o ambiente de trabalho, sendo cada profissional uma semente, as rochas, os pássaros, os espinhos seriam comparados à uma comunicação deficiente, falta de empatia, falta de respeito, de inteligência emocional, às fofocas, bullying, assédios… Enfim um ambiente adoecedor.
Para a maioria das pessoas, o trabalho é um importante componente da vida, eu costumo falar que aprendi com um professor no curso de mestrado em educação e diversidade, que ‘o trabalho faz parte das nossas vidas, mas não e a nossa vida’; mesmo que nossa vida não se resuma a esta parte das nossas vidas, mas é de grande importância, pois grande parte das nossas horas diárias e nossa energia intelectual e emocional são gastas no trabalho.
Por esse motivo, o trabalho não é visto e sentido com no aspecto material (salário, benefícios), como também com relação ao desempenho das atividades e para o contato social.
Hoje se sabe que o cotidiano do trabalho influi na vida e nas emoções das pessoas. Por exemplo, a realização de um projeto de trabalho importante resulta em sentimentos positivos, assim como uma discussão pode acarretar sentimentos de preocupação. Por isso, as instituições precisam, de alguma forma, proporcionar um ambiente de trabalho agradável.
A influência do bom ambiente para a produtividade, e, por consequência, o andamento do trabalho são alguns fatores fundamentais para a sua realização – o ambiente, o relacionamento, saber como as pessoas se sentem com relação às suas tarefas, enfim, uma visão mais global do trabalhador, são importantes para o desenvolvimento de uma boa saúde mental no trabalho.
Interagir é inevitável, e como essas interações acontecem influenciam diretamente no funcionamento e no desempenho dos profissionais, um ambiente saudável oportuniza que a equipe desempenhe da melhor forma possível, o contrário disso abre uma ferida tanto nos resultados da instituição quanto no emocional dos sujeitos envolvidos.
Cada um de nós possui algumas noções sobre o comportamento e as reações de outras pessoas, e até já desenvolveu certa habilidade para lidar com as maneiras diferentes que cada um possui; porém, essas noções são empíricas e nos basearmos apenas no que “achamos” nem sempre é um bom caminho.
Saber ouvir é uma das dificuldades mais observadas na dimensão interpessoal, no trabalho, ou mesmo na família, e é considerado uma das maiores habilidades humanas, isso implica dar àquele que fala sua atenção, somada à capacidade de compreensão.
Muitas razões estão envolvidas no ato de ouvir, são elas: desejo de obter informação; curiosidade em receber uma resposta; interesse em participar da história de outro ser humano; necessidade de estabelecer novos relacionamentos; respeito e desejo de valorização da pessoa do outro. (MACKAY, 2002, p. 10).
Para ouvir efetivamente, não basta apenas estar atento, mas perceber também a voz de quem fala, a escolha das palavras, o tom e ritmo, a linguagem corporal, enfim, é muito mais do que ficar passivamente deixando o som entrar pelos ouvidos. É uma das melhores formas de mostrar respeito pelo outro.
O que é importante observar é que ouvir não é uma atitude passiva, e que você pode ser ativo demonstrando seu respeito pelo outro. Ou seja, é possível dar uma opinião sem ofender.
Na opinião de Cleo Carneiro (apud FERNANDES, 1996, p. 38), Qualidade de vida no trabalho é ouvir as pessoas e utilizar ao máximo sua potencialidade. Ouvir é procurar saber o que as pessoas sentem, o que as pessoas querem, o que as pessoas pensam […] e utilizar ao máximo sua potencialidade é desenvolver as pessoas, e procurar criar condições para que as pessoas, em se desenvolvendo, consigam desenvolver a empresa.
O objetivo da qualidade de vida no trabalho é o de resgatar o ser humano e o ambiente, que, na maioria das vezes, são negligenciados, no caso da educação não é por motivos de desenvolvimento tecnológico ou crescimento econômico como em grandes empresas, o que entra nesta soma, infelizmente, são os EGOS.
Espero que possamos aprender com nossos erros e nossas experiências e construir condutas mais assertivas para ambientes mais acolhedores e saudáveis, ter uma conduta assertiva diz respeito a um comportamento que se aprende, permitindo-se agir de acordo com a ética, com expressar nossos sentimentos de forma honesta e adequada, fazendo valer nossos direitos sem negar o direito dos outros.
“Tu te tornar eternamente responsável por aquilo que cativas” não se trata se ser responsável enquanto viver por um outro alguém, mas entender que a forma como estabelecemos nossas relações interpessoais deixam marcas afetivas positivas ou negativas, abrindo feridas que não se apagam, pode cicatrizar, mas as marcas sempre estarão lá, que tenhamos cuidados como tratamos o outro, como olhamos ou nos portamos diante do outro.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA SAGRADA. A parábola do semeador (Mc 4.1-9; Lc 8.4-8). Editora Ave Maria.
FERNANDES, Eda. Qualidade de Vida no Trabalho. Salvador: Casa da Qualidade, 1996.
MACKAY, Ian. Como Ouvir Pessoas. São Paulo: Abril, 2002.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Companhia das letras, 2015.